O que eu vi em "Razão e sensibilidade" de Jane Austen

O aprendizado da sensatez

Ao concluir a leitura deste clássico de Jane Austen, uma parte de mim sentiu saudades da família Dashwood, mas a outra só conseguia pensar: “Preciso ser mais Elinor e menos Marianne.”

Marianne representa a sensibilidade da história, uma adolescente romântica, carregada de máximas e ideais. A personagem tem seus méritos, em sua admiração e deleite na beleza dos bosques, montanhas e flores sou levada a refletir sobre a necessidade de apreciar as coisas que me cercam, e a não esquecer nesse mundo de concreto e asfalto que há encanto e importância na natureza. A profunda apreciação pela música e especialmente pela leitura a faz ser menos tola, em comparação a outras personagens (como a insuportável Lucy Steele), menos presa à frugalidades.

Apesar de seus méritos, no entanto, Marianne é o oposto da sensatez, quando se trata do amor romântico ou até mesmo no respeito e consideração pelo próximo. Para ela, toda ideia que destoa das suas está errada, afinal de contas os romances que lê asseguram o seu posicionamento. Como consequência, a pobre garota mimada e sentimental caminha para a sua própria perdição, inclusive às portas do túmulo. Por conta da sua falta de domínio próprio, envolve-se rapidamente com um rapaz que mal conhece, entrega seu coração sem ele nem mesmo pedir, fica amargurada e em convalescência por se decepcionar com o bonitão (que na verdade é um canalha), descuida da sua saúde e quase morre.

Ah, Marianne como senti raiva de você pela sua insensatez, e estava cansada de ler suas tolices. Maaas ... lembrei que também já fui essa adolescente apaixonada e inconsequente. Por isso, a perdoei, mas principalmente porque você acordou de seus devaneios e alcançou o caminho da razão. Sim, ela se redimiu! E aprendeu inclusive a respeitar as pessoas próximas, tratá-las de forma afável e educada.

E Elinor? Bem, Elinor é minha personagem favorita dessa história. Uma mulher madura, e não falo somente de idade, mas de suas virtudes. Comprometida com a sensatez, a personagem representa o equilíbrio entre razão e sensibilidade. Apesar das acusações da irmã de que Elinor não tinha sentimentos, ela os tinha sim, e muito fortes. Ela sentia com intensidade, especialmente seu amor pelo querido Edward Ferrars, um amigo que se tornou o seu amado; o sentimento foi recíproco. Gostaria se ser amiga desse casal, pessoas gentis e de puros sentimentos, honrados, sem conversas vãs ou torpes.

Essa irmã sensata é o retrato do domínio próprio. Seu autocontrole, mesmo diante de humilhações e desgostos, é admirável. Vou colocar aqui alguns trechos do livro que a descrevem:

"Elinor tinha um coração excelente. Sua disposição era sempre afetuosa e seus sentimentos eram fortes, mas ela sabia como governá-los.” 
 
"Por alguns instantes Elinor quase se deixou vencer – seu coração quase parou em seu peito, e ela mal conseguiu se manter de pé; mas um esforço era indispensavelmente necessário; e ela combateu tão resolutamente a opressão de seus sentimentos que seu sucesso foi rápido e, naquela situação, completo.”
 

Poderia falar sobre os outros personagens, mas não há como fugir do foco principal: o aprendizado da sensatez, a busca pelo aprumo que todos precisamos alcançar. O amor doseado pela razão consegue ser intenso, sem deixar de ser prudente. Este é o amor de 1Coríntios 13. Espero galgar a cada dia o caminho da sensatez, que ao meu ver é o equilíbrio perfeito entre razão e sensibilidade.

Um beijo e até mais.
Társila Beatrice



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